“Bom
dia São Pedro, o senhor me dá licença?
Pois
não, minha filha, o que você deseja?
É que
morri lá na Terra, meu santo, e aqui estou me candidatando a um lugarzinho no
céu, gostaria de saber se posso entrar?
Vamos
ver minha querida. Você foi boa menina, crédula e piedosa, não cometeu pecado
capital algum? Foi moderada nos pecados veniais? Doou parte de seus ganhos aos
necessitados? Sempre ofereceu ao próximo tudo quanto a si mesma desejou? Foi
caridosa em todos os instantes? Não se dobrou pela cobiça, não esmoreceu nas
esperanças, jamais praguejou?
Desculpe
meu santo. Minha vida na Terra não foi como minha mãe me ensinou. Pensando
melhor, até acho mesmo que foi muito grande
a minha pretensão em procurá-lo. O senhor me desculpe, pensei bem e acho
que não mereço o céu, afinal lá na Terra fui apenas uma professora.
Uma
professora? Interessante minha filha; professores quase nunca reivindicam o céu.
Conte o que você fazia lá na Terra, fale de seu trabalho...
Bem,
São Pedro, lá na Terra eu procurava ensinar meus alunos a olhar, e não somente
ver, eu refletia constantemente sobre meu trabalho, buscava inová-lo sempre,
derramava toda ternura em minhas aulas. Aprendi a aprender com os outros, com
meus alunos, com suas experiências. Busquei ensiná-los a decifrar símbolos, a
resolver problemas, a se relacionar com outras pessoas, a trabalhar juntos.
Creio, meu santo, que fui uma pequena artesã que construía e reconstruía permanentemente
meu saber profissional. Enfim, procurei ser uma fazedora de perguntas e uma
construtora de sentidos... Acho que foi só isso, meu bom São Padro. Peço
desculpas, foi uma alegria descobri-lo, assim tão manso, tão brando...
Calma,
minha filha, não se vá. Entre. O céu é todo seu...
Mas
São Pedro??? O senhor me da, mesmo, licença para entrar?
Entre,
minha filha. Para entrar no céu um verdadeiro professor jamais precisa pedir
licença.”